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Bate papo com Raul Juste Lores

Advocacia Manhães de Almeida

Jornalista, escritor, pesquisador de arquitetura e urbanismo, e editor chefe da Vejinha (Veja São Paulo), Raul Juste Lores nos concedeu uma entrevista proporcionando um bate papo bastante enriquecedor.


Confira abaixo!

MMA = Marcelo Manhães de Almeida

RJL = Raul Juste Lores


MMA: Transcorridos 5 anos de vigência do Plano Diretor Estratégico do Município  de São Paulo (Lei 16.050/14), o que podemos destacar como sendo resultado das diretrizes por ele introduzidas?


RJL: Alguns avanços foram notáveis, como das fachadas ativas e do multiuso. A taxa de ocupação ainda é minúscula e o encarecimento da outorga onerosa não ajuda a baratear o m² em áreas centrais. Na prática, o poder público tem despachado os mais pobres para as periferias há 60 anos. Se você não pode construir paro alto, a cidade cresce para os lados. Nossa legislação é anti-prédio. Não se estranha que Itália e Mirante do Vale, nossos mais altos, sejam projetos dos anos 50.


RJL: Mas, por outro lado, claramente o mercado imobiliário anda bastante enferrujado em apresentar propostas inovadoras, que dialoguem com a calçada, com a rua, com o entorno, a cidade, enfim... Vejo vários incorporadores ainda reclamando da fachada ativa (!), e até mesmo na rua dos Pinheiros, um exemplo incrível de revitalização urbana, novos empreendimentos gastando a nobre esquina com entrada e saída de veículos. Parece que pegaram um projeto pouco inspirado da Vila Olímpia e simplesmente despejaram ali. Com esses erros, a reputação do mercado não melhora. No Baixo Augusta, com estacionamentos de sobressolos, aconteceu o mesmo.


MMA: Não é de hoje que os Prefeitos de São Paulo passaram a buscar alternativas para reocupação sustentável do Centro da Cidade. Parece ser unânime a necessidade de se ter mais moradores no centro e, com isso, além de dar destinação a vários edifícios hoje desocupados, estender a “vida útil” do centro após o horário comercial. Nesse sentido, o que está faltando para que os instrumentos de política urbana previstos no Estatuto da Cidade e no Plano Diretor sejam aplicados de modo eficaz para que possamos voltar a ter um Centro da Cidade cobiçado para morar e trabalhar?


RJL: Acho que ninguém ainda leva a sério, para valer, a ocupação do Centro. Governos de todas as bandeiras só pensam em repartições públicas ou centros culturais (nem eles pensam em habitação ali). As grandes empresas foram embora; até as que bancavam o Viva o Centro: construíram sedes na região da Berrini. E agora vem essa ideia de shows por lá, que acho bastante discutível. Bairro tem que ser multiuso, e não só balada.


MMA: Em relação ao empreendedorismo do mercado imobiliário, parece que não há mais a sinergia que verificamos na década de 50 entre arquitetos talentosos (a exemplo de Niemeyer, David Libeskind e Franz Heep) e empreendedores imobiliários (como Artacho Jurado, Octavio Frias de Oliveira e José Tjurs). Onde estão o Ed. Copan, Ed. Itália, o Conjunto Nacional, as Grandes Galerias dos anos 2000? A que se pode atribuir essa involução no desenvolvimento urbano da nossa Cidade?


RJL: Não existe nada parecido, hoje, ao Conjunto Nacional, ao Copan, à Galeria do Rock, à Metropole, ao Itália, ao Louvre; nem de longe! Os poucos bons exemplos são poucos, e de escala muito menor. Como os da Zarvos, o Santos Augusta, o Forma Itaim... E não é só culpa da legislação. Falta ambição, falta leitura, falta pesquisa, falta contemporaneidade. Vemos condomínios fechados pensados como se a economia e a família ainda fossem as mesmas dos anos 90.



Conversar com o jornalista Raul Juste Lores sempre nos leva a uma instigante reflexão sobre os rumos da nossa São Paulo. Voltaremos em breve com mais opiniões e observações do Raul mas, até lá, sugiro acessarem o seu podcast #SPSonha.


Obrigado, Raul, pela conversa.



- Marcelo Manhães de Almeida

 
 
 

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