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  • Advocacia Manhães de Almeida

De Nova Iorque a Maringá: planejamento de cidades

A palavra “cidade” vem do latim “civitate” e significa um espaço geográfico caracterizado por uma concentração populacional que se dedica às atividades econômicas, como comércio, indústria, atividades culturais, entre outras. O conceito de cidade também deu origem às palavras “cidadão” e “civilização”. Em um contexto global, elas ocupam uma posição muito importante, pois são essenciais para o desenvolvimento das atividades econômicas, principalmente aquelas que compõem o setor terciário, tais como instituições bancárias, bolsa de valores, publicidade, centros de pesquisa, etc. Entretanto, a elaboração e o planejamento de uma cidade não é algo simples. Algumas levaram anos para que pudessem ser grandes centros urbanos. Para o urbanista Jan Gehl, um dos mais renomados do mundo, as edificações devem ser estruturadas para que possam vir a ser visualizadas da estatura dos olhos humanos. Para o especialista, o planejamento de uma cidade ideal deve levar em consideração a percepção dos indivíduos que desejam abrigar-se nela. Brasília Para que Brasília pudesse vir a ser a capital do Brasil, a cidade contou com alguns processos que, inclusive, levaram bastante tempo para saírem do papel. Construída e planejada durante o governo de Juscelino Kubitschek, foi inaugurada em 21 de abril de 1960, com o intuito de torná-la a capital do país e, com isso, concretizar um projeto nacional que existia desde o séc. XIX, já proposto por José Bonifácio de Andrada e Silva no ano de 1823, que também constava como um mandamento previsto na Constituição de 1891. Após a eleição de Juscelino Kubitschek, foi dado início ao projeto de mudar a capital para o interior do Brasil. Concebida por Lucio Costa, Brasília contou também com as grandiosas obras de Oscar Niemeyer, mas só se tornaram viáveis devido aos estudos do engenheiro pernambucano, Joaquim Maria Cardozo, e Israel Pinheiro, deputado mineiro e engenheiro de confiança de JK. Inicialmente, a capital foi planejada para abrigar 500 mil habitantes, mas, 40 anos depois, segundo dados do IBGE, Brasília já ultrapassava 2,05 milhões de pessoas. A partir disso, a cidade enfrentou desequilíbrios e segregações de classes, em que uma parte da população mais vulnerável teve que se locomover para as extremidades periféricas da capital. Brasília apresenta alguns detalhes muito importantes para sua construção. Idealizadas por Lucio Costa, as superquadras são uma forma de organização urbanística na Asa Norte e Asa Sul da cidade, denominadas também de Superquadra Norte (SQN) e Superquadra Sul (SQS). Elas são quarteirões de aproximadamente 280 metros com lados idênticos. As superquadras 100, 200 e 300 possuem prédios com até 6 pavimentos e térreo. Já as de 400 têm mais de 3 pavimentos. As superquadras abrigam comércios entre as quadras e cada uma tem apenas um acesso, para facilitar o tráfego e deixá-lo com menos velocidade. Contudo, a maioria delas não possui edificações como igrejas, bibliotecas, cinemas e escolas que, inclusive, estavam previstas no Plano Piloto. Um fato interessante sobre essas estruturas é que são suspensas em pilares, tornando as projeções de paredes e fachadas mais flexíveis. Com mais de 60 anos de história, Brasília possui uma trajetória que envolve a colaboração e participação de muitas pessoas. Alguns ficaram descontentes e até mesmo contra o projeto inicial da sua construção, mas, sem dúvidas, o planejamento e a elaboração da capital são alguns dos marcos mais importantes para a nação brasileira. Paris A charmosa Paris que conhecemos hoje já enfrentou transformações gigantescas que mudaram todo o rumo da sua história. Em meados de 1853, a capital francesa estava inserida em um cenário medieval, com ruas estreitas, casas e prédios antigos - cenografia típica de filme europeu do século XV. Contudo, quando Napoleão 3° e George-Eugène Haussmann, seu chefe de estado, decidem por demolí-la, Paris “ressurgiu das cinzas”. Apesar de não possuir nenhum conhecimento sobre arquitetura, Haussmann ficou responsável pelo projeto arquitetônico e urbano da cidade, transformando-a com diversas de suas obras. 20 anos depois, o chefe de estado saiu do cargo e, com isso, seus projetos foram executados por mais de 50 anos. Ao todo, acredita-se que foram demolidos cerca de 19.730 prédios, e construídos aproximadamente 34 mil. Foram construídas também amplas avenidas ao lado de quarteirões e parques, além de esgotos, iluminação, aqueduto e o sistema de metrô de Paris. Durante a segunda guerra, Adolf Hitler ordenou a destruição da cidade a um de seus generais, mas este recusou sua ordem por achar “a cidade muito bonita para ser destruída”. Em seu processo de reurbanização, Paris adotou algumas medidas, como limitar a altura de seus prédios a 37 metros - equivalente a um prédio de 12 andares. Com a construção da Torre Eiffel, em 1889, a cidade não quis prejudicar a iluminação natural provenientes das vias com edificações muito altas, deixando visível seu posicionamento acerca das verticalizações. Contudo, há uma resistência por parte dos parisienses sobre esse modelo urbanístico na cidade, em que a maior parte da população é contra essa flexibilização. Por fim, a cidade mais romântica do mundo ainda passa por processos de urbanização que exigem diálogos, estudos e planejamentos. Barcelona O planejamento de Barcelona é uma referência para muitos. Iniciado em 1858, a cidade espanhola encanta a todos, principalmente, se vista de cima. Neste período, a era medieval era uma realidade para os seus habitantes. Com o crescimento populacional, Barcelona passou por alguns problemas por não suportar o volume de pessoas. Assim, foi criado o Plano Cerdá, que homenageia o arquiteto e engenheiro Ildefons Cerdá, também idealizador do projeto, que tinha intuito de urbanizar a cidade com ruas largas e áreas verdes. Assim, o espanhol desenhou uma malha com ruas paralelas e perpendiculares que se interseccionam apenas por avenidas que atravessam a cidade de forma diagonal. Além disso, há também as quadras ortogonais que permitem maior ventilação, circulação e iluminação.


Para o planejamento de Barcelona, Cerdá também propôs a criação de um mercado a cada 900 metros e, a cada 1.500 metros, haveria igrejas, cemitérios, hospitais, parques e um sistema viário de rodovias e ferrovias.


Chicago


Não é novidade que Chicago é admirada por muitos. Em seu planejamento, a cidade americana contou com um plano estratégico bem detalhado que a tornou uma cidade global importantíssima. O Plano de Chicago, ou “Plano Burnham'', foi desenvolvido por Daniel Burnham e Edward H. Bennett, e implementado em 1909, mas seu planejamento teve início em 1906, através do Merchant Club, do Commercial Club of Chicago, que era um grupo de empresários visionários que sentiam a necessidade de melhorias na cidade, como reparos nas ruas, a construção de novas ferrovias, parques, edifícios e portos.


Pontos de melhorias previstos no Plano Burnham:


Melhoria na margem do lago;

Sistema de rodovias regionais;

Melhorias nos terminais ferroviários;

Novos parques;

Arranjo sistemático de ruas;

Centros cívicos e culturais.


Chicago é um excelente exemplo de uma cidade bem planejada. Sendo bem verticalizada, possui altos limites de gabarito de altura, proporcionando uma harmonia extraordinária. Não é por acaso que se tornou uma das principais cidades dos Estados Unidos.


Nova Iorque


Com a Nova Iorque que vemos hoje, é muito difícil visualizá-la com apenas 7 mil habitantes, mas no início do século XVIII, essa era a realidade da tão querida “New York”. Nessa época, a cidade americana estava sob domínio dos ingleses, mas, 100 anos depois, já ultrapassava mais de 50 mil pessoas morando em seus arredores. Assim, tornou-se a terceira maior cidade dos EUA nesse período.


Com o crescimento acelerado no número de habitantes, foi preciso criar um plano para que pudesse regulamentar a cidade. Denominado de “Commissioners’ Plan of 1811”, possibilitou a criação de uma planta ortogonal com características de ordenação de espaços e ruas urbanas, dispostas em paralelo e sem becos sem saída. Esse plano também conectou diversos bairros aos arredores de Manhattan, incluindo Bronx, Brooklyn, Queens e Staten Island, cada qual com sua identidade, densidade e estilos arquitetônicos.


Com isso em mente, os governadores de Nova Iorque propuseram a criação de 11 avenidas e 155 ruas, que cooperaram para o desenvolvimento urbano regular da cidade. Um dos grandes marcos do planejamento foi a criação do Central Park inspirado nos parques públicos e praças da Europa. A edificação conta com uma área correspondente a 51 quarteirões, o equivalente a 340 campos de futebol. Mais tarde, com a alta concentração populacional, especialmente no bairro de Manhattan, boa parte dos habitantes teve que se locomover aos extremos periféricos. Assim, com objetivo de regulamentar a ocupação do solo, Nova Iorque criou o primeiro código de zoneamento, chamado também de Resolução de Zoneamento de 1916.


Mesmo em momentos desafiadores, como o da Grande Depressão de 29, Nova Iorque seguiu com o desenvolvimento de grandes empreendimentos - mais tarde, eles seriam a “marca registrada” da cidade. Por outro lado, na década de 80, a metrópole enfrentou mais um período difícil; dessa vez, ela vivenciava uma decadência social, uma vez que tinha um número significativo de moradores em situação de rua e um alto índice de criminalidade. Somente no mandato de Rudolph Giuliani, em 1994, é que Nova Iorque aplicou a política tolerância zero para diminuir os crimes na cidade, além disso, também houve melhorias arquitetônicas e urbanas.


Tóquio


Tóquio é uma cidade com características únicas, além de uma identidade nunca tida antes no mundo. Não é uma surpresa que a capital japonesa sempre tenha sido muito populosa - no século XVIII, ela já reunia cerca de mais de 1 milhão de habitantes, porém todos vivenciavam um contexto totalmente precário em subúrbios bem semelhantes às periferias brasileiras.


A metrópole tinha um cenário de casas baixas e bem próximas umas às outras; ruas estreitas e com fios desorganizados; espaços cobertos de outdoors; e transportes públicos sem planejamento algum. No entanto, para a sua urbanização, foi preciso levar em conta fatores como vitalidade e diversidade urbana, através da utilização de várias técnicas para criar uma cidade de alta qualidade.


Algumas demandas que Tóquio pretendia atender:


Espaços compartilhados;

Viadutos úteis;

Utilização de terrenos pequenos;

Zoneamento por “classe de incomodidade”;

Investimento em infraestrutura;

Recuos focados no espaço público;

Atendimento à demanda por moradia.


Com todas essas modificações, Tóquio mudou completamente de cenário, mostrando que para se ter um bom planejamento não são precisas mudanças extraordinárias. A capital japonesa elaborou um projeto que a permitiu reconstruí-la de uma forma mais urbanística e com alta qualidade.


Maringá


Algumas cidades do Brasil possuem um ótimo planejamento e, claro, Maringá compõe esse grupo. A cidade está localizada no Noroeste do Paraná e conta com um conceito moderno de urbanização. Além disso, é considerada a terceira maior cidade do estado.

Mas o que faz Maringá ser tão admirada? Bom, ela é um exemplo de planejamento com modernidade, qualidade de vida e está dentre as cidades brasileiras mais limpas e mais arborizadas, além de ser uma referência quando se trata de rodoviária regional.


Seu projeto foi iniciado em 1943 e assinado pelo urbanista paulista, Jorge de Macedo Vieira, que ficou muito conhecido na cidade de São Paulo por ser um adepto do conceito “Cidade Jardim”. Um fato interessante é que o especialista nunca esteve em Maringá e precisou da ajuda de Cássio Vidigal, diretor da Companhia de Terras Norte do Paraná. Seu planejamento consistia em dividir a cidade por zonas, além de largas avenidas e canteiros que valorizassem o paisagismo e inclinação natural. Na parte central, seria concentrado o centro cívico: Zona 1 destinada ao comércio e prestação de serviços; Zonas 2, 4 e 5 seriam residenciais; já Zonas 3, 6 e 7 seriam residenciais operárias. Com isso, a cidade foi oficialmente inaugurada em 10 de maio de 1947.


Hoje, Maringá possui aproximadamente 436.472 habitantes e conta com diversas edificações como parques, mercados, jardins, museus e universidades. Em 2005, a cidade foi considerada a mais segura do Brasil.

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